terça-feira, 2 de junho de 2009

LENDA DA IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES


Localizada no centro de Porto Alegre, na rua da Praia, próxima à Casa de Cultura Mário Quintana, a Igreja de Nossa Senhora das Dores é considerada a mais antiga ainda existente na cidade. Sua pedra fundamental foi lançada em 1807 e a construção concluída em 1866. O estilo arquitetônico da igreja é o barroco colonial e nela se destacam as duas inconfundíveis torres e a escadaria que a liga à calçada da rua da Praia.

AS TORRES MALDITAS

Quando as águas do Guaíba ainda costumavam encostar na Rua da Praia, no centro de Porto Alegre, começou a ser construída a Igreja de Nossa Senhora das Dores. Demorou quase um século para ficar pronta. Sua pedra fundamental foi lançada em 1807. Nos idos de 1830, não passava de um mero canteiro de obras. A demora, diz a lenda, nada teria a ver com cálculos malfeitos, e sim com preconceito e injustiça. Construída em estilo barroco, a igreja tem duas torres de cerca de cinqüenta metros e uma alta escadaria, num conjunto harmonioso.

Este belo templo de fé e arquitetura, no entanto, não teve nada de harmonioso em sua edificação.

O atraso nos primórdios da obra se explica pela forma como era custeada. Todos os recursos ali empregados vinham de doações dos moradores mais endinheirados de Porto Alegre, naquela época muito poucos por sinal. Assim, o andamento da construção dependia da quase sempre escassa boa vontade desses doadores. De vez em quando, se a situação permitisse, lá iam entregar madeira, pedra, bronze para os sinos, tinta para os santos, vidro para os vitrais. Vez que outra, a oferta era mesmo em dinheiro.

Botar escravos para trabalhar também era uma forma de contribuir com a obra da igreja. Afinal, eram os negros que faziam todo o trabalho braçal naqueles tempos. Emprestando alguns de seus cativos para as lides da construção, o senhor de escravos ficava com a consciência limpa e com a certeza de que estava garantindo o seu lugar no céu, a custa do suor dos outros.

Um desses senhores era Domingos José Lopes. Um desses negros chamava-se Josino.

Domingos, que era proprietário de Josino, havia emprestado o escravo para trabalhar na santa obra. Josino trabalhava duro todo o dia, seguindo ordens. Levava tábuas para cima e para baixo, carregava pedras mais pesadas do que ele mesmo, encarava o sol do meio-dia, sem água, sem comida, sem descanso, sem reclamar, até a exaustão. Ele sabia o que acontecia com os que reclamavam e não queria que acontecesse o mesmo com ele.

Apesar do esforço de Josino e de centenas de escravos como ele, que todo dia davam o couro em prol da paróquia, a obra parecia que não andava no ritmo esperado. Porto Alegre crescia, as doações aumentavam, mas a igreja das Dores continuava do mesmo tamanho.

Havia um motivo para isso.

Boa parte da madeira que chegava à igreja pouco ali ficava. Assim como parte das pedras. A terra, os pregos, barro, a argila, quase todo o donativo era deixado no canteiro de obras, mas de lá saía praticamente intacto. Os ricos doavam, mas depois de doar pegavam um bom pedaço de volta. Os escravos ficavam numa labuta insana, carregando coisas de um lado para o outro, tirando de uma carroça de manhã para colocar na mesma no final da tarde. Sem reclamar.

Josino sabia disso tudo, mas ficava quieto. Quem ia acreditar na palavra de um escravo? Era ele contra todos, e ele já havia apanhado demais na vida para saber que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Anos se passaram. Depois de muito trabalho e desvio de material, a igreja finalmente tomou corpo, faltando para a conclusão somente as duas torres. Mesmo sem a obra estar completamente pronta, decidiram que já era a hora de se fazer a inauguração. Foi então instalada no interior do templo uma imagem de Nossa Senhora, ricamente enfeitada, cheia de jóias. Chegava o momento da consagração.

Eis que sumiu uma das pedras preciosas que ador­navam a imagem da mãe de Cristo. Muito se discute obre quem seria o autor do roubo. Uns dizem que foi um padre, para dar de presente à amante. Outros apontam um homem muito rico, ansioso em ficar mais rico. Há quem afirme que o tal roubo nunca existiu, que a imagem já chegou sem a jóia. Se alguém levou a preciosidade, foi no caminho até Porto Alegre.

Mas quem quer que tenha sido o verdadeiro culpado, um inocente teve de pagar pelo crime: o escravo Josino.

Naquele tempo pouco adiantava contestar acusações, e as pessoas, ainda mais um escravo, podiam ser condenadas sem provas. Cabia a Domingos, proprietário de Josino, escolher sua sentença. Domingos nem pensou em defendê-lo. Muito pelo contrário: condenou-o à morte par enforcamento. Escravos, afinal de contas, eram coisas que se vendiam e se compravam, um a mais ou um a menos não faria nenhuma diferença para um grande proprietário como ele. Quem se importava com a alma de um escravo? Muitos acreditavam que os negros nem alma tinham. Não adiantava reclamar.

No dia da execução, no entanto, Josino reclamou.

O pelourinho, para onde eram levados os condenados à forca, ficava exatamente na frente da igreja das Dores. A Josino foi dado o direito de dizer suas últimas palavras. Pediu a ajuda de Deus e rogou uma praga para obra que lhe havia custado a vida:

– Vou morrer porque sou escravo, mas vou morrer inocente. A prova da minha inocência é que as torres da Igreja das Dores nunca vão ficar prontas!

Poucas pessoas lhe deram ouvido na hora, mas suas palavras seriam lembradas mais tarde. Cinco meses depois do enforcamento de Josino, conta a tradição que as torres quase concluídas balançaram uma, duas, três vezes e se esfarelaram no chão como castelos de areia.

A notícia correu a cidade e todos lembraram então da ameaça do escravo. Rezaram-se novenas e mais novenas pela alma do inocente, para que a igreja pudesse ser concluída, mas nada adiantou.

A maldição de Josino se mantinha. Par décadas as obras continuaram em vão. O reboco desmoronava, perdiam-se as plantas, até raios caiam atingindo a construção. Somente em 20 de julho de 1901, a praga de Josino se extinguiria. A Igreja de Nossa Senhora das Dores enfim seria completada, com a colocação de um cruzeiro de ferro entre as duas torres, agora bem sólidas.

E uma ironia histórica se completaria: o cruzeiro foi colocado pelo prior da irmandade na época, Aurélio Ve­ríssimo de Bittencourt, negro coma o escravo Josino.

Fonte: HAASE FILHO, Pedro (org.) Lendas gaúchas. Porto Alegre: RBS Publicações, 2007.

VENHA PARTICIPAR CONOSCO!!!

ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.